“Progresso não é linear. Mas é possível.” – Emelie

O exoesqueleto que usa estímulos elétricos para devolver movimento
Desenvolvido pela empresa sueca Remotion, o Mollii Suit é um exoesqueleto vestível que utiliza impulsos elétricos de baixa frequência para estimular os músculos e reduzir a espasticidade, condição comum em pessoas com lesão medular incompleta ou doenças neurológicas. O traje não é invasivo e pode ser personalizado para diferentes regiões do corpo.
No caso de Emelie, o traje tem a possibilitado ficar de pé, caminhar por pequenos trechos e até fazer passeios ao ar livre, algo que ela não vivia há anos. Ainda existem limitações motoras, mas sua qualidade de vida mudou drasticamente.
De um vídeo viral para uma discussão global
O vídeo de Emelie, em que ela se levanta da cadeira pela primeira vez usando o traje, ultrapassou 24 milhões de visualizações. Por meio de uma campanha nas redes, ela arrecadou os cerca de 9 mil euros necessários para adquirir o equipamento de forma definitiva.
A história chamou atenção não apenas pelo impacto emocional, mas por colocar em evidência o potencial transformador das tecnologias assistivas, especialmente as que combinam neurociência, design e acessibilidade.
A relação com a ciência brasileira: Nicolelis e a revolução cérebro-máquina
Casos como esse nos lembram que há décadas pesquisadores trabalham para construir essa realidade. Um dos nomes influentes nesse campo é o do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis, cuja carreira acadêmica e científica é referência mundial na área de neuroengenharia.
Formado em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP), Nicolelis obteve seu doutorado em Fisiologia Geral também pela USP, antes de se transferir para os Estados Unidos, onde consolidou sua trajetória científica. Professor da Universidade Duke (EUA) por mais de duas décadas, ele fundou e coordenou o Center for Neuroengineering, um dos principais centros de pesquisa em interface cérebro-máquina do mundo.
Do laboratório ao chute simbólico
Seu trabalho se destaca por demonstrar, por meio de experimentos com primatas e humanos, que sinais neurais podem ser captados, decodificados e utilizados para controlar dispositivos externos, como braços robóticos, cadeiras de rodas e, no caso mais emblemático, um exoesqueleto. Este último foi utilizado na cerimônia de abertura da Copa do Mundo de 2014, quando um jovem paraplégico deu o chute inicial simbolicamente, utilizando apenas a força do pensamento. Esse feito foi parte do projeto internacional Walk Again, coordenado por Nicolelis, que uniu ciência de ponta, engenharia biomédica e propósito social.
Ao conectar a atividade cerebral diretamente com estímulos motores artificiais, sua pesquisa demonstrou que o cérebro possui plasticidade suficiente para reaprender a se comunicar com o corpo, mesmo após lesões graves na medula espinhal. A base conceitual desses sistemas de reabilitação neurotecnológica, que combinam decodificação neural, feedback sensorial e aprendizagem, não apenas transformou paradigmas da neurociência, mas também inspirou o desenvolvimento de novas tecnologias assistivas, como o Mollii Suit, que embora opere por princípios diferentes, compartilha o mesmo objetivo: restaurar o movimento e a autonomia de pessoas com deficiência neurológica.
Caminhos possíveis, acessos desiguais
Ainda que o avanço tecnológico seja promissor, o acesso a essas tecnologias ainda é extremamente desigual. Equipamentos como o Mollii Suit seguem com valores muito elevados e circulação limitada fora da Europa. Para países do Sul Global, como o Brasil, isso representa um desafio ético e estrutural: como garantir que tecnologias que transformam vidas não fiquem restritas a poucos?
Nesse sentido, o papel da pesquisa nacional, políticas públicas e ciência aberta se torna ainda mais urgente. É preciso fomentar soluções acessíveis, sustentáveis e adaptáveis à realidade local.
A neurociência está mudando vidas. E isso é só o começo.
O caso de Emelie é comovente, mas não é exceção. É um reflexo do que pode acontecer quando ciência, tecnologia e redes de apoio se encontram.
🟠 Quais os próximos passos da neuroengenharia?
🟠 Como o Brasil pode ocupar mais espaço nesse cenário?
🟠 O que falta para tornar essas tecnologias mais acessíveis?
Se você pesquisa, trabalha ou acompanha inovações na área de reabilitação motora e neurociência, conta pra gente: que soluções têm te inspirado?
Fontes consultadas
- Jovem com paralisia volta a andar com traje neuromuscular e emociona milhões no TikTok — https://www.cnnbrasil.com.br/saude/jovem-com-paralisia-volta-a-andar-com-traje-neuromuscular-e-emociona-milhoes-no-tiktok
- Mollii Suit – Remotion — https://www.remotion.co.uk/
- Nicolelis Institute for Advanced Brain Studies — https://www.nicolelislab.net
- Chute simbólico na Copa do Mundo 2014 — https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2014/06/chute-simbolico-na-copa-e-dado-por-paraplegico-com-exoesqueleto.html
- Brain–machine interfaces to restore neurological function (Nature Reviews Neuroscience) — https://www.nature.com/articles/nrn2473